ENTREVISTA COM O PSICÓLOGO CLAUDIO BRITES
O mês de setembro é o mês da saúde emocional, por isso vamos abordar com o Psicólogo Claudio Brites a importância da saúde mental.
DBCV – O que é depressão?
CLAUDIO BRITES – A depressão, enquanto questão de saúde mental, é quando o humor deprimido toma conta do humor normal do indivíduo por um tempo extenso e sem conexão direta com motivos aparentes e conscientes (luto, situação de abuso, sofrimento qualquer ou doença).
É importante ressaltar que existem pessoas que são mais melancólicas do que outras e a ideia social de que a tristeza é algo ruim acaba fazendo com que a gente veja depressão em tudo e em todos, o que é um problema tão complicado quanto não estar atento para os sinais de estados depressivos extremos. Aliás, abrir espaço para tristeza pode ajudar, inclusive, a evitar a depressão, pois a tristeza não reprimida se resolve no seu tempo, não assumindo um espaço maior do que precisaria inicialmente.
DBCV – Como podemos identificar a depressão?
CLAUDIO BRITES – Autoconhecimento é fundamental. Como eu disse, algumas pessoas são mais melancólicas do que outras, lidam mais com estados de humor tristes. Isso não é um defeito, como costuma se julgar, é uma característica daquele indivíduo. Contudo, às vezes, a tristeza se torna ainda mais profunda, extrema e começa a invadir a vida e preenchê-la de imagens e pensamentos negativos em relação a tudo; nesse caso, é importante ficar atento.
DBCV – Identificamos pelo autoconhecimento e mais alguma outra forma?
CLAUDIO BRITES – Se você se conhece, sabe detectar que está fora daquele seu limiar. Fora isso, podem se somar às suas observações, as indicações de familiares e de amigos que costumam apontar que você está fora do que costuma ser – se muita gente está apontando isso, é importante ficar atento.
Essa é uma pista muito importante, porque é normal se sentir deprimido para fazer, por exemplo, um trabalho que você não gosta. Agora, se essa tristeza começa a sufocar você para levantar da cama, para fazer aquilo que ama; como ir ao cinema, tomar café com um amigo etc., podemos ter um quadro depressivo a ser investigado. Além disso, se você vive situações de abuso ou relações tóxicas, seja em casa ou no trabalho, a depressão é uma reação de aviso, uma pista para a nocividade dessas situações.
Agora, quando nenhum desses cenários está presente, temos um quadro depressivo e, como eu disse, há necessidade de investigação mais apurada. Um quadro depressivo nem sempre é depressão, mas pode se tornar. Aliás, não só no caso da tristeza, estar eufórico demais ou com raiva desmedida. A depressão dialoga com muitos extremos, e como não damos atenção à Saúde Mental, não somos educados para isso, alterações acentuadas em qualquer direção devem ser elementos de reflexão e investigação pessoal. Saúde mental é busca por equilíbrio.
DBCV – O que é a Ansiedade?
CLAUDIO BRITES – Do ponto de vista prático, a ansiedade, assim como o medo, é algo natural. Ela é uma ferramenta que nos mantém atentos (assim como a tristeza tem seu papel positivo), mas, se for demais, ela começará a prejudicar a vida e isso precisa de atenção. O indivíduo ansioso em excesso tem uma preocupação em relação aos resultados de suas ações, ao futuro, em excesso. Ele não consegue se desconectar do futuro. Essa preocupação pode fazer com que ele não consiga agir com clareza por conta do nível de expectativas que tem dos seus resultados.
DBCV – Como lidar com a ansiedade?
CLAUDIO BRITES – Uma forma de lidar é trabalhar a reflexão sobre o motivo de toda essa incapacidade de lidar com incertezas. A incerteza é a grande certeza de nossas vidas, a impermanência, não sabemos nunca o resultado de nossas ações. Esperamos certos resultados, acreditamos neles, mas dizer que você sabe 100% que ele dará certo ou errado é um equívoco. Trabalhar essa consciência é fundamental para o indivíduo ansioso, que as coisas não estão totalmente sob controle e que isso é bom, porque nos mantém atentos e torna a vida algo fluida, já que evidencia o movimento do viver. Se todos os resultados da vida fossem certos, ela seria muito chata.
DBCV – Como é feito o tratamento das doenças emocionais?
CLAUDIO BRITES – Um psicólogo pode ajudar muito a pessoa que está sendo afetada negativamente pela ansiedade. Assim como na depressão, se você perceber que sua vida está perdendo totalmente o eixo por conta do seu nível de ansiedade, chegando até a afetar sua saúde física, é importante procurar um profissional.
Aliás, depressão e ansiedade podem andar juntas, e isso torna tudo ainda mais complicado.
DBCV – O dia 10 de setembro tem como objetivo a prevenção de suicídio, por que o número de pessoas que buscam essa saída tem aumentado?
CLAUDIO BRITES – O suicídio é um tabu, é uma questão difícil de tratar porque envolve essa total impossibilidade de acessar algum sentido para o que foi feito. Durante muito tempo as famílias abafavam esses casos, ainda o fazem, mas de certa forma, de um tempo para cá, esses casos têm sido mais registrados. Talvez esse seja um motivo para o aumento estatístico dos casos.
Outro motivo, considero eu, está ligado ao mesmo motivo que tem feito com que depressão e ansiedade tenham se espalhado de forma pandêmica: a alma precisa de tempo. Precisamos de tempo para lidar com nossas tristezas, nossas derrotas, mas também para curtir nossas conquistas, nossas mudanças; e não estamos tendo tempo para isso. Nosso único ativo nesta existência é o tempo e o estamos desperdiçando ou entregando para que outros o gerenciem. Perdemos algo, temos que lidar com aquilo rápido porque não há espaço para o luto, para raiva, para o medo. Esse compasso causa uma avalanche de angústias, de coisas não elaboradas. A saúde mental é agressivamente afetada por isso; e o adoecimento costuma ser um grito por ajuda. Se a ajuda não vem, os resultados podem ser a busca definitiva pelo fim do sofrimento.
DBCV – Como ajudar uma pessoa que pensa em suicídio?
CLAUDIO BRITES – Primeiro, preciso frisar a impossibilidade de se ter controle sobre essa situação com 100% de acerto. O suicídio sempre dialogará com o inexorável, ou seja, aquilo sobre o que não temos controle e conhecimento total. O que não nos impede, como eu disse, de buscar explicações e formas de evitar essas situações.
A forma mais eficaz de ajudar o outro é escutar o outro, é perceber o outro. Estamos cada dia mais conectados por sistemas digitais, mas onde está nossa conexão real? Escutar é estar atento. É assim que você detecta que alguém pode estar sendo afetado por um quadro depressivo ou ansioso que o está fazendo muito mal. O mesmo vale para ideações suicidas, quando estamos atentos, podemos, talvez, ajudar aquela pessoa a se comunicar.
Muitos dizem: “Fulano só quer aparecer”. Bem, se ele usa a ameaça de que vai tirar a própria vida como uma forma de chamar a atenção, isso também deve ser respeitado, avaliado e acompanhado. Não é o seu julgamento do quanto alguém pode ou não estar ameaçando para valer que tirará a própria vida, que deve servir como parâmetro para oferecer ajuda ou não para alguém – até porque a espera pelo resultado desse julgamento pode vir tarde demais.
DBCV – Claudio, para concluir, o que poderia ser feito para melhorar a situação emocional da população.
CLAUDIO BRITES – A saúde mental deveria ser cuidada desde a base de nossa formação como pessoas, assim como cuidamos de nossa saúde física com vacinas, atendimento periódico etc. As famílias deveriam ter um psicólogo da família, como temos médicos e o sistema de saúde deveria ter o mesmo espaço para esses profissionais quanto tem para outros. Quantos espaços públicos de atendimento de saúde mental você conhece? E os poucos que temos, estão focados em situações extremas. Fora isso, as escolas precisariam ter profissionais de saúde mental ativos, trabalhando junto aos professores, familiares e alunos.
Contudo, mesmo com esse cenário ideal, não podemos mais atuar junto à saúde mental de forma reativa, focados sempre no já batido diálogo tardio entre diagnóstico e tratamento. Quando uma pessoa procura ajuda para um tratamento psicológico, já está arrastando uma situação há meses ou anos. Por isso, essa consciência sobre a importância da saúde mental em nossas vidas é o primeiro passo para trabalhar realmente na solução de todos esses problemas que abordamos aqui tão rapidamente, mas que exigem muitas outras tantas reflexões e, principalmente; propostas e ações reais.
Claudio Brites é psicólogo, editor e mestre em linguística.
Para conhecer mais o seu trabalho, acessem o site:
www.liquidoeditorial.com.br
Abaixo, os contatos do especialista:
E-mail: claudiobrites@gmail.com
Celular: + 55 11 9 58681456
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